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  • Foto do escritorDr. Guilherme Holanda

Alterações Dermatológicas Após Cirurgia Bariátrica

Atualizado: 4 de jul. de 2020




  • O que é a cirurgia bariátrica?

A cirurgia bariátrica é considerada uma opção terapêutica adequada contra a obesidade e sua demanda vem aumentando progressivamente. Os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica experimentam a melhora significativa nas comorbidades médicas e, também, na mudança no padrão de fome e saciedade. As cirurgias que apresentam melhores resultados podem reduzir o peso em até 30 a 40% do seu total e seu efeito é mantido por longos períodos.


  • Quais os tipos de cirurgia bariátrica?

Existem três tipos de cirurgias:

- Cirurgia 1 - Restritivas: incluem a gastroplastia vertical com anel inelástico, banda gástrica ajustável pela laparoscopia e gastrectomia tipo sleeve.

Nota: Estas técnicas não alteram qualitativamente nem quantitativamente a absorção de nutrientes.

- Cirurgia 2 - Mal-absortivas: incluem a derivação biliopancreática e biliopancreática duodenal .

Nota: Estes procedimentos causam má aborção de macro e micronutrientes.

- Cirurgia 3 - Mista: bypass gástrico com Y de Roux.

Nota: A má absorção é essecialmente limitada aos micronutrientes e, ao longo da vida, há necessidade de suplementação de vitaminas e minerais para prevenir o desenvolvimento de deficiências.


  • Quais as complicações gerais da cirurgia bariátrica?

As doenças metabólicas e nutricionais estão entre as principais complicações da cirurgia bariátrica. Elas decorrem da diminuição da ingestão oral, bem como da alteração na absorção de alimentos no estômago e intestino delgado.


  • Quais as complicações da cirurgia bariátrica relacionado com pele, cabelo e unhas?

Na atualidade, os achados restringem-se às alterações secundárias aos distúrbios metabólico e nutricional, às modificações da estrutura da pele após a maciça perda de peso e à sua influência sobre a melhora de determinadas dermatoses.

  • Por que essas complicações ocorrem?

As deficiências nutricionais de micronutrientes e minerais ocorrem após a cirurgia bariátrica, principalmente após procedimentos cirúrgicos que interferem, de alguma maneira, na absorção dos alimentos. Este interferência decorre da ingestão inadequada de alimentos após a cirurgia, alterações na anatomia do aparelho digestivo decorrentes do próprio procedimento cirúrgico e elevados níveis de estresse oxidativo, que também interferem no processo absortivo.

Comentários em cada tipo cirurgia citado anteriormente:

- Cirurgia 1 - Restritivas: Na cirurgia em que é colocado uma banda gástrica, a deficiência de micronutrientes não é comumente observada, porém a deficiência de folato tem sido descrita, devendo ser regularmente monitorado, especialmente em mulheres em idade fértil.

- Cirurgia 2 - Mal-absortivas: Na cirurgia em que é realizado uma derivação biliopancreática e biliopancreática duodenal, os pacientes têm risco de desnutrição proteica. Assim, a suplementação de 1,5 g de proteína por kg de peso pode ser necessária.

- Cirurgia 3- Mista: Os pacientes submetidos ao bypass gástrico com Y de Roux, habitualmente, apresentam diminuição da absorção de vitaminas lipossolúveis, ferro, vitamina B12, A, D, E, K, tiamina e ácido fólico.


  • Qual a correlação entre a deficiência de nutrientes e suas possíveis repercussões na pele, cabelos e unhas?

A seguir, irei realizar uma breve descrição de alguns micronutrientes que podem estar relacionados com a cirurgia bariátrica (alguns já citados anteriormente), porém mais especificamente suas fontes e os achados quando ocorre sua deficiência.


1. Vitamina A ou Retinol

- Fonte: é encontrada em alimentos de origem animal, tais como leite de vaca, fígado, ovos e óleos de peixe, além de vegetais que contenha betacaroteno, como folhas verdes e coloridas; frutas, como manga e o damasco; cenoura e tomate

- Deficiência: sua deficiência pode causar ressecamento dos olhos, pele seca, acne, cabelos quebradiços, pápulas foliculares e ceratóticas mais comumente na face anterolateral das coxas e braços, podendo estender-se para pela face extensora dos membros superiores e inferiores, ombros, abdômen, dorso, glúteos e região cervical e frinoderma.


2. Vitamina B2 ou Riboflavina

- Fonte: é encontrada no o leite e derivados, peixes, ovos, folhas verdes e cereais integrais

- Deficiência: pode causar mucosite, queilite angular e labial, glossite, xerose, dermatite seborreica, eczema escrotal e vulvar, eritrodermia e necrólise epidérmica tóxica


3. Vitamina B3 ou Niacina

- Fonte: é encontrada carnes, aves, nozes, ovos, peixe, café e feijões

- Deficiência: pode causar pelagra, dermatite simétrica em áreas fotossensíveis, queilite e glossite


4. Vitamina B5 ou Ácido Pantotênico

- Fonte: é encontrado na gema de ovo, fígado, rim, brócolis, carne de frango e bovina, leite, batata e cereais integrais

- Deficiência: pode causar púrpura, branqueamento dos cabelos, dermatite seborreica, estomatite angular e glossite e a síndrome dos “pés em chamas”


5. Vitamina B6 ou Piridoxina

- Fonte: é encontrado em alimentos como a carne, os grãos integrais e nozes

- Deficiência: dermatite seborreica, glossite, ulcerações na mucosa oral, queilite labial e angular, lesões fotossensibilizantes


6. Vitamina B9 ou Ácido Fólico e Vitamina B12 ou Cobalamina

- Fonte: o déficit de vitamina B12 é, geralmente, devido à absorção inadequada dos nutrientes associada à anemia perniciosa ou a alterações gástricas. Em contraste, a deficiência de ácido fólico é, geralmente, atribuível a uma dieta inadequada e/ou alcoolismo.

- Deficiência: queilite angular ou labial, glossite, aumento ou redução da pigmentação do cabelo


7. Biotina

- Fonte: é obtida da síntese de bactérias intestinais dos alimentos, cujas principais fontes dietéticas são gema de ovo, carne de fígado, nozes, amendoim, cogumelos, leite de vaca e soja

- Deficiência: alopecia, glossite, ceratose pilar, dermatite periorificial, dermatite seborreica e eritrodermia


8. Vitamina C ou Ácido Ascórbico

- Fonte: ingesta de frutas cítricas, morangos, tomates, vegetais e batata

- Deficiência: má cicatrização, ceratose pilar, petéquias perifoliculares, equimoses, púrpuras, cabelos quebradiços, escorbuto (gengivite, sangramento gengival, ceratose pilar) e síndrome de Sjögren-like


9. Ferro

- Fonte: obtido através da carne vermelha e, em menor quantidade, ovos e laticínios

- Deficiência: palidez, coiloníquia (unha em formato de colher), glossite e alopecia


10. Cobre

- Fonte: ingesta de alimentos como carnes, frutos do mar, alguns vegetais, cereais e nozes

- Deficiência: cabelos despigmentados e ralos, alopecia e retardo na cicatrização


11. Vitamina D

- Fonte: obtida atra’ves da conversão na pele através da exposição solar, mas também pode ser obtida por meio de fontes dietéticas: os de peixe têm a maior quantidade de vitamina D disponível, mas ovo, fígado, cogumelos shiitake e os produtos fortificados, como leite e laranja, são fontes dietéticas adicionais

- Deficiência: dermatite atópica, psoríase, infecções cutâneas, acne, dermatoses autoimunes e câncer de pele


12. Vitamina E

- Fonte: amplamente encontrada em vários alimentos, principalmente em óleos vegetais

- Deficiência: dermatite atópica e acne


13. Vitamina K

- Fonte: é encontrada em folhas verdes, legumes, carne de fígado, lentilha, óleos vegetais e soja

- Deficiência: púrpuras, petéquias, equimoses e hematomas


14. Zinco

- Fonte: é encontrado na maioria dos produtos de origem animal, leguminosas, cereais integrais e produtos lácteos, porém sua absorção é limitada

- Deficiência: Acrodermatite enteropática (alopecia, erupção cutânea acral e periorificial simétrica, eczematosa e erosiva), cabelo seco, quebradiço e ralo, retardo na cicatrização, paroníquia, estomatite, dermatite psoriasiforme, blefarite, queilite angular e lesões vitiligo-like


15. Selênio

- Fonte: pode ser encontrado são o arroz, o feijão e as farinhas

- Deficiência: retardo na cicatrização, psoríase e câncer de pele

  • Como é realizado o tratamento e prevenção dessas deficiências?

O primeiro passo para diminuir o risco dessas deficiências nutricionais ocorrerem é manter seguimento médico regular seguindo todas as orientações e medicações do seu cirurgião e, caso ocorra algum sintoma descrito acima, considerar realizar uma consulta dermatológica para identificar a causa exata e buscar a melhora maneira de tratamento, que normalmente é feito com uma suplementação associado a outras medidas como dieta, mas que devem ser individualizadas, prescritas e conversadas com seu dermatologista.


  • É comum a queda de cabelo após a cirurgia?

Sim! Isto ocorre devido a uma condição chamada eflúvio telógeno.

O eflúvio telógeno possui várias causas: pós-parto, febre, infecção aguda, sinusite, pneumonia, gripe, dietas muito restritivas, doenças metabólicas ou infecciosas, cirurgias, especialmente a bariátrica, por conta da perda de sangue e do estresse metabólico, além do estresse. Algumas medicações também podem desencadear o problema.

O eflúvio tem início em torno terceiro mês após a cirurgia e é autolimitado, ou seja, tem melhora espontânea em torno de 4 meses após o início da queda de cabelo.

A queda de cabelo pode se manter após esse período em alguns casos, podendo estar relacionado a progressiva perda de peso, restrição alimentar, complicações cirúrgicas ou deficiências nutricionais.

É importante lembrar que não há um tratamento específico. Algumas medicações, que são estimuladoras do crescimento capilar, podem ser associadas para acelerar esse processo de recuperação.  Se o paciente for saudável, e sem doença prévia do couro cabeludo, terá plena capacidade de recuperação.  O prognóstico em geral é bom, mas é sempre indicado que a pessoa procure um dermatologista para conhecer melhor seu caso, e se há a necessidade de tratar alguma possível doença de base associada. Ou, ainda, se é preciso descobrir algum fator que possa estar associado à queda, como na área alimentar, seja por uma deficiência de ferro ou vitaminas, este último sendo muito frequente após a cirurgia bariátrica, como dito anteriormente.


Referências:

- Manzoni AP, Weber MB. Skin changes after bariatric surgery. An Bras Dermatol. 2015;90(2):157-166

- Imagem: www.dermis.net

Este texto complementa as informações já explanadas na consulta, aprofundando o conhecimento neste tema e tem como objetivo ajudar a esclarecer de maneira mais completa e exclusiva, detalhes e curiosidades sobre o tema através de perguntas para auxiliar no entendimento desta condição.

Qualquer dúvida poderá ser abordada na próxima consulta.

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